Competências e Singularidades

Yaacov Hecht, idealizador das escolas democratas em Israel, entende que deveríamos ser capazes de ampliar a quantidade de habilidades pelas quais os alunos possam se sentir bons o suficiente (não medianos ou ruins) e, a partir desta sensação, fazer as escolhas sobre quais caminhos querem trilhar. Partindo desta premissa, as escolas poderiam ofertar mais possibilidades de temas curriculares a serem fonte de aprendizagem para que os alunos pudessem se sentir excelentes em algo. A experiência em sentir “sou bom em algo e tenho meu valor” (uniquessess) em detrimento de “não há nenhuma matéria em que sou bom” (não me encaixo em nada) permanecerá por anos em nossas vidas, daí a importância de iniciarmos a educação das crianças incentivando a autovalorização. Que bom seria, certo?

Dias atrás fui levar minha filha de 6 anos e sua amiga para a natação. No trajeto, a amiga perguntou à minha filha “Em que você é boa na escola?”. Minha filha não titubeou e respondeu “Em yoga, sou muito boa!”. A amiga fez a réplica “Não! Tem que ser em alguma matéria, tipo português...”. Minha filha manteve sua resposta e disse “Em yoga e, pensando melhor, em ballet também”. E nas empresas? De que forma as diversas singularidades vão trazer a competitividade aos negócios? Basicamente, todo o esforço de um RH está voltado à geração de um resultado ao negócio por meio das pessoas (é clichê, eu sei). Não é somente na somatória, mas sim na complementariedade das competências/singularidades que será possível manter os colaboradores engajados. Não conseguimos mais sustentar a ideia de que devemos ser completos a ponto de sermos independentes ou mesmo um clima de que “tudo falta, corra atrás". Será possível estar (ou criar) em um ambiente que sejamos capazes de (re)pensar quais são as competências necessárias para o negócio, que considere a complementariedade dos profissionais? O RH e os Líderes bem sabem que é um trabalho árduo, mas possível. E por que ainda é árduo? Estamos “com tempo” para falar das pessoas? Ou há excesso de demanda? Temos medo de não termos um modelo pronto e errar? A vulnerabilidade é aceita? É tanta burocracia que nos impede de abrirmos agenda para o diferente? Precisamos inventar mais alguma coisa ou colocar em prática o que já sabemos? Incentivamos tempo de qualidade para a aprendizagem e conexão com nossas potencialidades? Ou estamos gerando mais estresse em contato com as nossas “faltas”? Entendemos que todos possuem suas singularidades? Mais um lugar comum, eu sei, mas o “evento pandemia” nos mostrou, e espero que não tenhamos a ignorância de esquecer, que precisamos humanizar as relações de trabalho. Falemos de competências e seus resultados de forma séria, com interesse genuíno, com espaço para sermos vulneráveis e não perfeitos, com confiança, para assim podermos gerar a competitividade de mercado que todos os nossos negócios precisam. Novamente, sejamos gentis conosco e com os que nos cercam.

Giovana Calenzani.
Head de Desenvolvimento Humano Organizacional na Arax